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sexta-feira, 23 de julho de 2021

REFLEXÃO SOBRE O TERMO "HISTORICAMENTE"

 

Nestes tempos atuais, que para mim são sombrios – tão sombrios que permitem que a comparação entre a Ku-Kux-Klan e o Movimento Black Power seja considerada normal - frequentemente a gente ouve alguém fazer uso do advérbio “historicamente” para defender os argumentos que supostamente fundamentam sua posição política. Falam das atrocidades cometidas nos Regimes Socialistas; falam do mal que a Esquerda representou e representa, só não se lembram que o Nazismo foi um movimento nascido no coração e no cérebro da Direita. Dessa forma, quando ouço o “historicamente”, chega me dar uma espécie de calafrio. 

A primeira pergunta que me faço é: “De que ‘História’ essa pessoa tá falando?”; a segunda questão que me faço é: “A qual escola ou corrente histórica essa suposta “História” está vinculada (pra citar algumas: Escola Metódica? Historicismo Alemão? Escola dos Annales? Nova História? História das Mentalidades? Escola de Frankfurt? História das Ideias? História das Ideias Políticas? História Política? História do Político? História do Pensamento Político? Materialismo Histórico-dialético? História Cultural? História Social? etc. etc. etc.); e a terceira pergunta que me faço é: “Que livros essa pessoa leu ou em que sites pesquisou pra fundamentar sua opinião, sua posição, sua perspectiva?”. 

Lembrando que opinião (do grego: doxa) é o oposto de ciência (do grego: episteme) e História é uma ciência, que a propósito, segundo Ivan Jablonka, possui uma forma específica de raciocínio, denominada por ele de “raciocínio histórico". Ou seja, não basta usar o termo “historicamente” é preciso ter uma “mente histórica" pra transitar no universo da História.

Muito do conhecimento que fundamenta minha posição política eu adquiri quando (ao final do 1° ano do curso de História: tive três anos pra estudar o tema) resolvi escrever meu Trabalho de Conclusão de Curso sobre “A Campanha Anticomunista no Jornal ‘O Anápolis’ (1945-1964)”. Eu não sabia nada sobre o tema. Eu tinha lido 1 capítulo do livro do Juscelino Polonial (historiador anapolino) e a pergunta que me fiz depois dessa leitura foi: “por que tanto medo do Comunismo?”. A ideia mais acabada que eu tinha do Comunismo era o desenho dos Smurfs. 

Aí... fui estudar o tema HISTORICAMENTE, com seriedade, procurando conhecer diferentes perspectivas. Ao final dessa pesquisa foi possível construir um conhecimento sólido sobre temas relacionados ao Comunismo, ao Capitalismo, ao que é Esquerda, ao que é Direita, à Regimes Democráticos, a Regimes Ditatoriais, ao Fascismo etc. etc. E esse conhecimento foi tão sólido que se tornou parte de mim. De todos os livros que li para essa minha pesquisa (aproximadamente 40 livros), pra mim, o mais esclarecedor foi: 1964: a conquista do Estado, de René Armand Dreyfuss; e sobre o Anticomunismo, o mais legal foi: A cruzada anticomunista, de Michael Parenti, que classifica o Anticomunista de “histeria coletiva” (tão atual). O TCC virou livro (uma espécie de paradidático), graças a uma lei que existia aqui em Anápolis.

Pra finalizar, apenas um conselho: as palavras carregam significados, assim, antes de usá-las reflita demoradamente, profundamente, “HISTORICAMENTE”!



 

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