Rio de Janeiro, cidade maravilhosa! É assim que muitos brasileiros e estrangeiros viam e denominavam o Rio, talvez agora possamos entender o que o compositor e cantor carioca Marcelo D2 quis dizer, em uma de suas músicas, quando escreveu: “É muito fácil falar de coisas tão belas, de frente pro mar mas de costas pra favela”. Como se não bastasse, nessa mesma música, intitulada “021” – referência ao DDD do Rio – Marcelo complementa: “Sarajevo é brincadeira, aqui é o Rio de Janeiro”.
Não é preciso ser um gênio, nem ter o
nome de um, para saber que o que está acontecendo hoje no Rio de Janeiro – e
que o Brasil e o mundo estão assistindo pela televisão e pela internet – é o
produto de décadas e décadas de negligência, descaso, menosprezo por parte das
diferentes instâncias do poder, para com as favelas, que no caso em questão
representa a camada populacional menos favorecida social e economicamente, mais
vulnerável e, contraditoriamente, mais numerosa da sociedade brasileira.
As raízes das “gigantescas árvores” do
crime, que hoje o governo carioca está tentando arrancar à força, começaram a
se desenvolver logo nos primeiros anos da Ditadura Militar – para se ter uma
ideia, mesmo que superficial, basta assistir ao filme “Cidade de Deus” – pois
para os militares daquela época o verdadeiro perigo estava no consumo de
determinadas ideias políticas (especificamente as ditas “subversivas”) e não no
consumo de diferentes drogas, que eram até bem quistas pelos militares pois
facilitavam e propiciavam a alienação com relação às questões políticas,
segundo uma amiga que viveu o período em questão no Rio.
“Quem planta, colhe”. Isso não é apenas
um ditado, é uma lei, que diferente da nossa é inflexível. O triste é que o que
no momento estamos colhendo são vidas, de civis inocentes, de militares e dos
ditos “bandidos”. Mas essa é uma outra questão que podemos explicitar apoiados
agora em uma música do Chico Science que diz assim: “E quem era inocente hoje
já virou bandido pra poder comer um pedaço de pão todo fodido. Banditismo por
pura maldade, banditismo por necessidade”. Assim como Chico Science acredito e
diferencio essas duas forças motivadoras do crime: a maldade e a necessidade.
Fico imaginando quantas vidas não
poderiam ter sido preservadas (não só nesse episódio do Rio de Janeiro, como em
muitos outros, menos visíveis mas não menos trágicos) se os poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário – em seus diferentes âmbitos: Federal, Estadual e
Municipal – simplesmente justificassem sua existência e funcionassem efetivamente,
oferecendo condições e oportunidades para todos, ou melhor, para cada um.
Sei que é um sonho, mas, quando a
realidade se torna um pesadelo, nada melhor que sonhar, “porque sonhar é
esquecer e esquecer é muita vez toda felicidade da vida”, como dizia Machado de
Assis.
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