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sexta-feira, 8 de março de 2024

O NOME DELA

    

Ela era linda. Quase-perfeita. Pele macia, agradável ao tato. Perfumada, ela me inebriava todos os sentidos. Com os lábios, sorria larga e meigamente; já com os olhos, sorria de forma irônica e de novo linda. Seus olhos possuíam um brilho diferente, menos constante, mais intenso. O fulgor deles não era morno como o das estrelas, mas era fulminante como os relâmpagos: seduzia e amedrontava. Cabelos vastos insistiam em atrair magneticamente os meus dedos. Ela tinha os lábios firmes de quem não mente, mas que nunca diz tudo, encobre. E ainda assim era linda. Língua suave e saliva também. Que sede dela! Desenhados por um Rafael, os ouvidos dela eram propícios aos meus sussurros. E eu sussurrei palavras sem fim. Sussurrei com a minha alma, com o meu fogo e com o meu amor. Sim, com o meu amor! Eu sussurrei com amor. Eu a toquei com amor. Eu a beijei com muito amor. Eu a amei com todo o meu amor. Eu estive nela com amor e amei estar. A temperatura dela me fervia o sangue e as ideias. A liquidez dela saciava minha sede e eu a bebi sofregamente. Era linda de qualquer ângulo. Me embriaguei dela despudoradamente, como um beduíno num oásis intocado e inesperado. Dormi nela e sonhei pra ela o sonho dela. Acordei com ela. Ela continuava linda. E voltei a sonhar quando a tive de novo entre meus braços, num abraço de Shiva. Por que sua dança insiste em perseguir meu amor, Shiva? Mil vezes linda ela era. O abraço dela me acalmava e seu beijo me incendiava, me incandescia. E eu vivi essa tempestade em mim, dentro de mim. Fui tormenta, cataclisma e caos. Entrei em erupção. Em lava me tornei e por ela em rocha me transformei, tocando, bebendo na liquidez tépida e deliciosa que suas carnes escondiam, como um Graal, mais sagrado que o de Arimateia. Por instantes, eu deixei de existir. Só havia ela e minha contemplação. Linda eu a contemplei. Pigmalião que sou, criei uma Deusa e fui seu servo fiel, constante, verdadeiro. Sempre verdadeiro. Carne, osso e verdade. É tudo que sou! E é pra sempre! E tudo isso durou uma noite e uma verdade. E eu a amei, nem sei se ela existia, mas eu a amei. Era linda. Sem saber como, eu sabia que naquele sonho seu nome era Mulher.

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